No contexto do dito “novo normal”, temos todxs o direito e o dever de sermos agentes de mudança: mais solidárixs e menos individualistas. É urgente lutarmos contra a desigualdade social. A Ação Cooperativista compromete-se com esses princípios e vem, a 25 de maio de 2020, propor um pacto ao Governo para com a Sociedade Civil. Consideramos que vivemos um momento inédito de fragilidade, precariedade agravada e incerteza a nível nacional, que muito afetou xs menos contempladxs pela proteção social: xs trabalhadorxs independentes.
Como trabalhadorxs da Cultura e das Artes – em que o regime do trabalho independente é mais a regra do que a exceção –, e com esse entendimento alargado das necessidades sociais, afirmamos o nosso empenho num Pacto de Compromisso para o Futuro, que passa pelo diálogo e a chamada de atenção para um conjunto de preocupações e medidas urgentes a tomar, a saber:
1. Ninguém pode ficar de fora do apoio que o Governo lhe deve prestar;
2. A Cultura tem de ser respeitada como um direito de toda a população, acessível a todxs, cabendo ao Estado o dever constitucional de a promover, potenciar e financiar condignamente.
3. Repudiamos qualquer violência exercida sobre animais. Nesse sentido, incluímos aqui o repúdio de qualquer atividade que implique sofrimento de animais, como é o caso das touradas.
4. Importa salvaguardar a saúde pública e dar resposta às necessidades elementares de todxs xs cidadãxs, no desenho das medidas do desconfinamento da Cultura e das Artes.
O documento tornado público pelo Ministério da Cultura com “Medidas,
Orientações e Recomendações” é manifestamente insuficiente. Caso não seja possível garantir essa salvaguarda, que se cancele o desconfinamento das artes, pelo bem de todxs – cidadãxs e trabalhadorxs do setor.
Ainda assim, reafirmando que este é um setor que inclui uma grande diversidade, que fique claro que há grupos profissionais cuja medida urgente poderá ser o desconfinamento – como é o caso, por exemplo, de bandas de música, de muita arte popular, arte de rua…
5. O Governo tem, nas mãos, uma oportunidade única de começar a construir uma mudança de paradigma em relação à Cultura e às Artes, encarando-a como um pilar na edificação de qualquer sociedade. Urge, de uma vez por todas, dar resposta ao estatuto de invisibilidade a que a Cultura tem sido votada.
Enquadramento:
Durante uma crise sem precedentes, como a crise pandémica que vivemos, xs artistas disponibilizaram o seu trabalho via digital, tornando-se a companhia de todxs xs portuguesxs ao longo do Estado de Emergência e de confinamento que atravessámos.
Importa reconhecer que os espectáculos, a literatura, a música, o cinema, as artes visuais, o multimédia, o audiovisual, foram fundamentais na manutenção da saúde de todos nós e essa importância tem de se refletir, de uma vez por todas, no peso político que o Ministério que os tutela tem;
6. As medidas do momento presente têm de integrar um Fundo de Emergência de apoio do Estado xs trabalhadorxs do setor da Cultura e das Artes, que abranja absolutamente todxs xs que neste trabalham, dxs mais visíveis xs mais invisíveis, sem competição e sem contrapartida de produção artística e/ou cultural;
7. A formulação de uma verdadeira política cultural, sustentada pelo conhecimento real do setor das Artes e da Cultura, é da maior importância, promovendo o diálogo aprofundado com o terreno e a articulação com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ministério das Finanças, Ministério da Educação, Ministério da Economia e Secretaria de Estado do Turismo, Direções Regionais da
Cultura e Municípios:
8. A “normalidade” que nos espera não pode repetir os erros do passado. É da responsabilidade do Governo e de todxs xs cidadãxs garantir que profissionais da Cultura e das Artes sejam abrangidxs por uma política cultural de solidariedade, de inclusão efetiva – não só de representação – que valorize a cidadania participativa. Este futuro tem de incluir não-brancxs, afetadxs por uma história de roubo e expropriação colonial, violência racista, exclusão social, e apropriação cultural; profissionais trans, queer e não-binárixs que têm sido, sistematicamente, excluídxs do acesso à proteção social e a oportunidades de trabalho no sector; profissionais com deficiência, cuja invisibilidade social e exclusão é perpetuada pelas instituições culturais; que profissionais sistematicamente desfavorecidxs pelo seu contexto social e económico, incapazes de responder à expetativa de um sistema que perpetua o trabalho não remunerado; profissionais imigrantes a viver em Portugal, muitas das vezes, sem acesso a espaços culturais, a bolsas e a oportunidades de residências; artistas mulheres – cis, trans e trans-femininas – afetadas pela desigualdade salarial e falta de oportunidades, no panorama cultural português.
Enquanto trabalhadorxs da Cultura e das Artes, enquanto cidadxs, afirmamos perante o Governo e a Sociedade Civil o nosso investimento absoluto e empenhado na defesa e reafirmação destas medidas, até que estas tenham uma resposta condigna.
Acreditamos que a recuperação deste setor só poderá ser a pleno, se se olharem também as suas fraturas estruturais. Estas são resultado de opções políticas que têm vindo, sucessivamente, a remeter a Cultura para um lugar marginal ao dos setores essenciais à subsistência e ao crescimento de um país.
A Cultura pode e deve afirmar-se como um valor sistémico e vital para toda a sociedade civil.
O momento de o fazer é agora.
UNIDXS PELO PRESENTE E FUTURO DA CULTURA EM PORTUGAL
Ação Cooperativista
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